Embora a atividade de lobby não seja regulamentada no Brasil, nada impede empresas se juntarem e, legitimamente e às claras, trabalhar por suas propostas. Exemplo recente é a campanha Aprove Diesel, em vínculo muito próximo à SAE Brasil, organização de engenheiros da mobilidade. A entidade congênere, AEA, manteve-se neutra nesse assunto.
De fato, o Brasil é o único país em que uso do diesel em veículos leves não está autorizado por razões, no passado, de origem econômica. Aprove Diesel quer mudar essa situação e apresenta argumentos técnicos e ambientais no mínimo discutíveis. Primeiro ao afirmar que motores diesel modernos são muito superiores em termos de consumo de combustível. Este cenário já virou e os números apresentados estão distorcidos. Os de ciclo Otto (gasolina, etanol e flex) tiveram um salto tecnológico e continuarão a evoluir rapidamente.
Ao se comparar motores europeus modernos, de mesma potência, a diferença de consumo em relação à gasolina caiu de 25% para 12%. Há projeções para menos de 10%. Como um motor a diesel custa até 50% mais, em breve estará inviabilizado na Europa para automóveis menores e baratos. Combustíveis europeus são muitos caros e isso ajudou na quilometragem mínima anual para amortizar a diferença de custo do veículo (quanto maior e menos accessível, melhor).
Quem acompanha lançamentos constata que novas gerações de motores são quase todas a gasolina, mais baratos de produzir. Fabricantes europeus despejaram muito dinheiro para “limpar” a sujeira do diesel com ajuda de muletas técnicas e, claro, querem convencer o resto de mundo a entrar nessa aventura.
No Japão e China, diesel é liberado para automóveis, mas sua participação, meramente simbólica. Na vizinha Argentina, menos de 3%. Nos EUA, só motores a gasolina estão no programa oficial de metas de redução de consumo, o que não deixa de ser uma “discriminação”, segundo o lobby de marcas europeias. Diesel é insubstituível em caminhões, razoável para utilitários e SUVs pesados, mas do petróleo vem também gasolina adequada aos veículos leves.
Onde entra o Brasil nessa história? O vilão ambiental do momento é o gás carbônico (CO2) e a única forma de combatê-lo é diminuir o consumo de combustíveis fósseis. Pessoal do Aprove Diesel esqueceu-se de dizer que as emissões desse gás poderão aumentar aqui e não diminuir. Etanol de cana-de-açúcar é praticamente neutro em CO2, no ciclo de produção/consumo. Então, automóveis que usam gasolina, com 25% de etanol, quase se equivalem aos a diesel em termos de CO2. E se utilizarem apenas etanol nem dá para comparar, mesmo com nosso atual atraso tecnológico.
Empresas que mostram posição antiCO2 na Europa, aqui mudam o discurso. Para dourar a pílula, acenam com a possibilidade de o País produzir biodiesel e diesel de cana. Essas alternativas, porém, são inviáveis economicamente, se sabe não é de hoje. Mesmo o etanol mal consegue competir com a gasolina subsidiada.
Exageros nos argumentos sempre são abomináveis. Há pouco tempo os engajados diziam que o Brasil estava em desacordo com a Declaração Universal de Direitos Humanos, da ONU, ao proibir o acesso dos cidadãos aos avanços do motor diesel. Pode?


